Economista-chefe do Inter destaca desaceleração da inflação e alerta para os riscos fiscais e externos que ainda rondam a política monetária
O mercado financeiro amanheceu dividido às vésperas da nova decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para quarta-feira (18). Enquanto parte dos investidores aposta em uma elevação da Selic para 15% ao ano, uma ala mais cautelosa defende a manutenção da taxa em 14,75%. Há ainda uma minoria que projeta alta mais agressiva, de 0,5 ponto percentual.
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, o mais prudente neste momento é manter a Selic no atual patamar. Em entrevista ao portal Bora Investir, da B3, ela defende que os últimos indicadores reforçam um cenário mais benigno para a inflação. Abrindo, inclusive, espaço técnico para encerrar o ciclo de alta iniciado em 2021.
“Temos uma inflação com desvio em relação à meta, mas não tão alta quanto em ciclos anteriores. E uma Selic que não víamos nesse nível há duas décadas”, destacou a economista.
Inflação desacelera, mas equilíbrio fiscal ainda pesa
Segundo Rafaela, os dados de maio mostraram uma desaceleração da inflação acima do esperado, com impacto tanto em alimentos quanto em bens industriais beneficiados por um câmbio mais favorável. Além disso, núcleos de inflação e serviços apresentaram sinais qualitativos positivos. O Boletim Focus, divulgado nesta semana, reforçou esse movimento com revisões para baixo nas projeções de curto prazo.
Apesar disso, o fator fiscal continua no radar como um ponto de alerta. A execução orçamentária até o fim do ano será determinante para saber se haverá espaço para cortes de juros já em dezembro.
“Se o governo seguir acelerando os gastos, a inflação pode resistir, e a queda da Selic será adiada. Por outro lado, se houver disciplina fiscal, o processo de desinflação poderá ser mais robusto e antecipar o início da flexibilização monetária”, avalia.
Juros altos, crédito pressionado e risco de desaceleração
Com a Selic no nível mais elevado em 20 anos, o cenário já é considerado suficientemente restritivo. Rafaela alerta que a manutenção prolongada dessa taxa pode levar a uma desaceleração mais forte do crédito, o que, em última instância, impactaria negativamente o consumo e o crescimento do PIB.
“Ainda não está no radar uma retração econômica, mas o risco existe se a política monetária continuar pressionando por muito mais tempo”, pontua.
Cenário externo: volatilidade e guerra tarifária exigem cautela
O ambiente internacional adiciona camadas de incerteza à equação. O comportamento do Fed, as tensões geopolíticas no Oriente Médio, a volatilidade nos preços do petróleo e o avanço da guerra tarifária entre grandes economias são fatores que exigem atenção do Copom.
Segundo Rafaela, esses elementos podem trazer tanto pressões inflacionárias quanto deflacionárias. A superoferta industrial gerada pelas disputas comerciais, por exemplo, pode puxar os preços de bens para baixo, enquanto os conflitos globais mantêm os mercados voláteis.
“Apesar das incertezas, o cenário externo ainda exerce pressão baixista sobre a inflação brasileira, via câmbio e commodities. Mas o Banco Central deve manter esse risco no balanço, especialmente diante da imprevisibilidade geopolítica”, conclui.
Fonte: JHC/B3
