Parceria com Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein sinaliza mudança de estratégia no bloco sul-americano e pode servir de modelo para futuros acordos internacionais
Na 66ª Cúpula do Mercosul, realizada em Buenos Aires, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a presidência temporária do bloco das mãos de Javier Milei, da Argentina. Durante a presidência argentina, o bloco aprovou a ampliação de exceções à Tarifa Externa Comum que é um antigo pleito do Brasil. Agora, mais de 50 códigos tarifários poderão ser flexibilizados por decisão soberana dos países-membros, o que amplia a capacidade de resposta do bloco a distorções de mercado ou barreiras internacionais.
O Mercosul deu um passo estratégico ao fechar um novo acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), que é o bloco formado por Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein. Embora os números da balança comercial ainda sejam modestos, o pacto cria uma zona de livre comércio que abrange um mercado de 290 milhões de pessoas e um PIB combinado de mais de US$ 4,3 trilhões.
O acordo, na avaliação de especialistas, representa muito mais do que ganhos tarifários. É um movimento simbólico e técnico que demonstra a disposição do Mercosul de se reposicionar no cenário global após anos de impasse nas negociações com a União Europeia.
“Este é um acordo que vai além das transações comerciais. Ele inclui temas como investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual e sustentabilidade. É um modelo moderno, que pode inspirar outras tratativas”, avalia Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
Um modelo de negociação menos ideológico
Ao contrário do conturbado acordo Mercosul-União Europeia, travado por cláusulas ambientais, pressões políticas internas e desconfiança mútua, o pacto com a EFTA foi conduzido com pragmatismo e foco técnico.
A EFTA é composta por economias desenvolvidas, politicamente neutras e com elevado padrão regulatório. Ela oferece ao Mercosul acesso qualificado a cadeias globais de valor em setores como tecnologia, farmacêuticos, finanças e energias limpas. Além disso, abre espaço para exportações agroindustriais e manufaturas com regras claras de origem e segurança jurídica.
Sinal diplomático e geopolítico
O acordo também funciona como mensagem internacional: o Mercosul está aberto a negociar, diversificar parceiros e ampliar sua presença global sem depender exclusivamente da União Europeia, China ou Estados Unidos.
“Essa parceria mostra que o bloco sul-americano pode ser protagonista em acordos multilaterais modernos e equilibrados. É um modelo mais leve, sem as amarras ideológicas que freiam outras tratativas”, comenta Barral.
A expectativa é que esse formato sirva de referência para futuras negociações com países da Ásia, África e Oriente Médio, além de representar uma pressão indireta sobre a UE para flexibilizar seus termos.

Ganhos práticos para o Brasil e os demais membros
Empresas brasileiras e sul-americanas poderão se beneficiar da redução gradual de tarifas, acesso facilitado a compras governamentais europeias, proteção de investimentos e mecanismos de cooperação tecnológica. Também estão previstas cláusulas sobre sustentabilidade, propriedade intelectual e serviços.
O acordo ainda precisa passar por procedimentos legislativos nos países-membros, mas já é considerado um avanço concreto na estratégia de internacionalização econômica do bloco.
Em resumo:
- Acordo cria zona de livre comércio entre Mercosul e países da EFTA
- Envolve mercado de 290 milhões de pessoas e PIB superior a US$ 4,3 trilhões
- Inclui temas como investimentos, compras públicas e sustentabilidade
- Pode servir de modelo para novos tratados fora do eixo tradicional
- Representa um reposicionamento geopolítico e comercial do Mercosul
Fonte: JHC