A resposta improvisada do Planalto à ofensiva americana escancara a ausência de estratégia industrial, diplomacia firme e coordenação entre ministérios.
A decisão dos Estados Unidos de impor novas tarifas contra produtos de países do Brics, incluindo o Brasil, não apenas eleva a temperatura nas relações comerciais internacionais, mas também expõe o improviso com que o governo Lula tem tratado temas estratégicos de política externa e desenvolvimento industrial.
O anúncio das tarifas, concentradas em setores sensíveis como aço, alumínio, fertilizantes e produtos agrícolas, foi feito com base em supostas distorções de mercado provocadas por subsídios e práticas consideradas desleais. A medida afeta diretamente exportações brasileiras e ameaça cadeias produtivas já pressionadas por custos logísticos e tributários internos.
A reação do Planalto, contudo, parece ter vindo mais no susto do que com qualquer planejamento. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou em acionar a OMC, enquanto o Itamaraty distribuiu uma nota protocolar. Mas não houve até agora uma resposta coordenada, muito menos um posicionamento firme que demonstrasse capacidade de negociação real com Washington.
O problema vai além das tarifas. A retaliação americana também é sintoma de algo mais profundo: o Brasil perdeu a centralidade em fóruns de articulação comercial e ainda não conseguiu apresentar um plano consistente de reindustrialização. O discurso do governo Lula sobre soberania, cooperação Sul-Sul e fortalecimento do Brics carece de mecanismos concretos que blindem o país diante de ofensivas comerciais como essa.
Em Brasília, parlamentares da oposição apontaram o episódio como mais uma demonstração da “diplomacia ideológica” do atual governo, que, segundo eles, prefere alinhamentos políticos a acordos pragmáticos. Já setores da indústria cobram respostas técnicas, como o mapeamento preciso dos impactos setoriais e a busca urgente por novos mercados para compensar eventuais perdas nos EUA.
No curto prazo, o Brasil pode até recorrer à OMC ou tentar um diálogo bilateral. Mas isso exige articulação política bem estruturada, algo que não se constrói com improviso. No médio prazo, a reconstrução da política industrial e comercial é inadiável. E no longo prazo, o país precisa decidir: vai seguir oscilando entre retóricas vazias e medidas paliativas ou assumir, de fato, uma postura estratégica no comércio global?