Enquanto estudo do Sebrae revela que 16 milhões de empreendedores negros batem recordes, a SPFW N60, com a força de marcas como Dendezeiro e artesãos da Amazônia, mostra na prática o poder da criatividade para virar o jogo.
O empreendedorismo negro no Brasil vive um profundo paradoxo. De um lado, um crescimento explosivo e uma resiliência que impulsiona a economia; do outro, um abismo de desigualdade de renda que teima em persistir. Um estudo recente baseado na PNAD Contínua revela que o país ultrapassou a marca de 16 milhões de empreendedores negros em 2024. Um salto de 28,3% em dez anos, superior ao crescimento de 18,4% entre os brancos.
Apesar de registrarem o maior nível de renda domiciliar da série histórica, a desigualdade estrutural se impõe: a renda média dos donos de negócios negros ainda é 35,7% menor que a dos brancos. Os dados mostram uma pirâmide clara, onde os negros são 81,1% dos empreendedores beneficiários do Bolsa Família e apenas 28,2% dos que ganham acima de três salários mínimos.

Enquanto a estatística expõe o desafio, a 60ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), que acontece nesta semana, oferece a resposta. O maior evento de moda da América Latina tornou-se uma vitrine da potência do afro-empreendedorismo, provando que a criatividade é um dos principais caminhos para a geração de valor e a quebra desse ciclo de desigualdade.
A vanguarda criativa no Line-Up Oficial
Muito além de um evento de tendências, a SPFW N60 é um termômetro da força econômica e cultural de designers negros que estão na vanguarda do mercado. Marcas como Dendezeiro, Ateliê Mão de Mãe, Meninos Rei e Angela Brito não estão apenas no line-up, elas estão entre os desfiles mais aguardados, ditando o que o Brasil produz de mais autêntico e desejado, redefinindo o conceito de luxo nacional e gerando negócios de alto valor agregado.
Da amazônia para a passarela: A riqueza da bioeconomia
A força do afro-empreendedorismo e dos negócios de identidade regional não se limita aos grandes centros urbanos. Nesta edição, uma iniciativa do Sebrae trouxe, pela primeira vez, pequenos negócios da região de Santarém, no Pará, para expor no evento.
Marcas como Nunghara Biojoias, Coomflona (Cooperativa Mista da Flona Tapajós), Cuias Aíra e Trançados do Arapiuns apresentam produtos que unem design de ponta, identidade amazônica e bioeconomia. Elas provam que é possível gerar renda, manter a floresta em pé e acessar o mercado mais sofisticado do país, transformando sementes, cuias e fibras em objetos de desejo.
A SPFW, portanto, é mais do que moda: é a materialização do potencial que o estudo do Sebrae aponta. Ela mostra que, para diminuir o abismo de 35,7%, o caminho passa por investir, dar visibilidade e abrir mercados para a potência criativa do empreendedorismo negro e de base comunitária.
Da redação HC
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