Enquanto o shutdown americano se prolonga sem solução e a inflação volta ao centro das atenções no Brasil, bolsas globais mostram resiliência e otimismo cauteloso.
Mesmo com a paralisação prolongada do governo americano, os mercados acionários seguem em alta, demonstrando resiliência diante do impasse político em Washington. O S&P 500 acumula seis sessões consecutivas de valorização todas ocorridas durante o shutdown e se aproxima de sua sequência mais longa de ganhos desde maio. O movimento é acompanhado por novos recordes do ouro e do Bitcoin, refletindo uma combinação de otimismo com ativos de risco e busca por proteção em meio à incerteza.
A ausência de dados econômicos oficiais reforçou as apostas de que o Federal Reserve promoverá um corte de 25 pontos-base na reunião deste mês, com probabilidade de 95%, segundo a ferramenta FedWatch da CME. No entanto, essa percepção será testada ao longo da semana, com a ata do FOMC, a pesquisa de confiança do consumidor da Universidade de Michigan e o aguardado discurso de Jerome Powell, que poderão redefinir expectativas.
O petróleo Brent opera em alta, após a Opep+ confirmar aumento de 137 mil barris diários a partir de novembro, em linha com o previsto pelo mercado. Na Ásia, os mercados chineses permanecem fechados pela Golden Week, mas o destaque foi o Japão: o índice Nikkei 225 saltou quase 5% após a vitória de Sanae Takaichi na liderança do partido governista, consolidando seu caminho para se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra. Sua postura pró-estímulo impulsionou os ativos de risco e pressionou o iene e os títulos de longo prazo.
Na Europa, o clima é mais contido: os índices recuam após a renúncia inesperada do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, da França, ampliando a crise política e elevando dúvidas sobre a estabilidade do governo Macron.
Cenário brasileiro: isenção e volatilidade
No Brasil, a semana passada foi marcada pela aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda, vitória importante para o governo Lula. Entretanto, o mercado reagiu com cautela diante de rumores sobre novas medidas de caráter populista e alto custo fiscal, como a proposta de gratuidade no transporte urbano, que poderiam pressionar as contas públicas.
Com a abertura da janela eleitoral de 12 meses para o pleito de 2026, cresce a volatilidade nos mercados, sensíveis a manchetes e pesquisas. O foco da equipe econômica, nesta semana, é a MP que substitui o aumento do IOF, responsável por cerca de R$ 20 bilhões em receitas. A medida expira na quarta-feira e ainda precisa ser votada na Câmara e no Senado.
Também está prevista a análise do relatório da LDO de 2026 na Comissão Mista de Orçamento, em tentativa de contornar os efeitos da decisão do TCU sobre o descumprimento da meta fiscal deste ano. No campo dos indicadores, o destaque será o IPCA de setembro, a ser divulgado na quinta-feira (9), que deve mostrar aceleração após o fim do bônus de Itaipu nas tarifas de energia.
Mesmo com a alta pontual, a expectativa é que a inflação encerre 2025 abaixo de 5%, mantendo trajetória de convergência, embora ainda limitada para cortes adicionais da Selic neste ano.

Shut down e expectativas nos EUA
O impasse entre Donald Trump e os democratas mantém o governo americano em shutdown, sem perspectiva de solução no curto prazo. A suspensão da divulgação de dados como o payroll reduz a visibilidade da economia, mas os mercados seguem tranquilos. O S&P 500 acumulou alta de 1,1% na semana passada, em máximas históricas, acompanhado por Dow Jones e Nasdaq, enquanto o índice de volatilidade VIX segue próximo de 15%, indicando ausência de estresse.
O otimismo é sustentado pela expectativa de corte de juros e pela temporada de resultados do 3º trimestre, que começa em 14 de outubro. Entre as novidades corporativas, Jeff Bezos comparou a euforia em torno da inteligência artificial a uma “bolha industrial”, e as ações da Palantir caíram 7,5% no pregão de sexta-feira.
Tecnologia e chips: acordo bilionário
A OpenAI anunciou um acordo estratégico com a AMD, que permitirá a aquisição de até 10% de participação na fabricante de chips, mediante o cumprimento de metas de expansão de infraestrutura de IA. O plano prevê o uso de 6 gigawatts de GPUs Instinct, começando em 2026.
O movimento consolida a OpenAI como uma das maiores âncoras de demanda global por chips, após o acordo de US$ 100 bilhões com a Nvidia, e reforça a corrida por capacidade computacional e independência de fornecedores.
Indicadores – Brasil
Indicador | Variação | Nível Atual | Comentário |
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Ibovespa (fech. 03/10) | −0,86% | 144.201 pts | Pressionado por bancos, mas com potencial de recuperação |
Dólar comercial | −0,49% | R$ 5,3107 | Cede com entrada de fluxo estrangeiro e tom global positivo |
Euro | −0,32% | R$ 5,68 | Recuo alinhado ao dólar global mais fraco |
Bitcoin | +1,12% | US$ 64.380 | Testa novas máximas históricas no movimento de busca por proteção |
Ouro (spot) | +0,45% | US$ 2.565/oz | Beneficiado pela incerteza política nos EUA |
Selic (meta) | — | 10,50% | BC mantém discurso de cautela diante do cenário fiscal |
DI Jan/26 | +0,04 p.p. | 10,82% | Curva longa sobe com ruído sobre gastos públicos |
IPCA (set/25) | — | aguardado (quinta, 9) | Expectativa de aceleração após retirada do bônus de Itaipu |
Balança comercial | — | divulgação às 15h | Pode refletir impacto do câmbio sobre exportações agrícolas |
Café arábica (ICE) | +0,72% | US$ 2,21/lb | Influência da entressafra e exportações menores |
Soja (CBOT) | +0,38% | US$ 12,14/bushel | Alta moderada após anúncio de pacote agrícola nos EUA |
O Ibovespa, que caiu 0,86% na semana passada e fechou sexta-feira em 144.201 pontos, tende a buscar recuperação nesta segunda-feira, apoiado pelo fluxo estrangeiro, o ETF EWZ em Nova York subia 0,03% no pré-mercado.
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