Brasil fora do mapa da fome: Conquista com contradições e disputas de oportunismo

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Anúncio da ONU sobre a saída do Brasil do Mapa da Fome gera celebração, mas especialistas e dados apontam para um potencial produtivo vastamente inexplorado e uma corrida por créditos políticos.

O Brasil foi, mais uma vez, retirado do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), um anúncio feito durante a 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares em Adis Abeba, na Etiópia. O relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025” indica que menos de 2,5% da população brasileira está em risco de subnutrição, marcando a saída do país da categoria de insegurança alimentar grave, algo que já havia ocorrido em 2014 e foi revertido entre 2018 e 2020.

A notícia é, sem dúvida, um marco positivo e um alívio para a nação. No entanto, uma análise mais aprofundada revela contradições e nuances que lançam luz sobre o quão “mínimo” foi o esforço para alcançar esse patamar e a corrida por créditos políticos.

O “Mínimo do Mínimo”: Potencial Inexplorado e Ação Deficiente

Segundo informações destacadas pelo coordenador-geral de Sustentabilidade de Polos e Projetos de Irrigação da Secretaria Nacional de Segurança Hídrica (SNSH), Antônio Guimarães Leite, a saída do Brasil do Mapa da Fome está diretamente ligada a políticas públicas de fomento à agricultura irrigada. Ele aponta que os 18 Polos de Agricultura Irrigada, coordenados pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), tiveram um papel estratégico. No Nordeste, por exemplo, 12 desses polos foram cruciais, como o do Baixo São Francisco em Alagoas, escolhido por seu potencial hídrico e de solos férteis.

No entanto, é nesse ponto que surge uma das maiores contradições. Embora os 18 polos somem aproximadamente 1,5 milhão de hectares irrigados, estudos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) revelam que o Brasil possui um potencial de expansão de até 53,4 milhões de hectares para a agricultura irrigada. Desse total, 26,69 milhões estariam em áreas agrícolas e 26,72 milhões em pastagens, todas já modificadas e com condições de abastecimento de água e com oferta hídrica suficiente.

Essa disparidade é o que leva à reflexão sobre o “mínimo do mínimo” alcançado. O país teria um gigantesco potencial inexplorado para fortalecer a produção de alimentos, promover a inclusão produtiva e impulsionar o desenvolvimento regional em uma escala muito maior, sugerindo que a saída do mapa da fome ocorreu com uma fração ínfima da capacidade produtiva e de investimento em políticas de segurança hídrica e alimentar.

O Oportunismo Político na Reivindicação da Autoria

A notícia da saída do Brasil do Mapa da Fome rapidamente se transformou em palco para reivindicações políticas. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi um dos primeiros a se manifestar. Por meio de suas redes sociais, Motta afirmou que a conquista é “uma vitória do povo” e que a Câmara cumpriu seu papel essencial.

Ele relembrou ações do Parlamento, como a viabilização do auxílio emergencial durante a pandemia, a transformação do Bolsa Família em programa permanente e a redução dos impostos da cesta básica. “Isso demonstra o nosso compromisso: a lealdade da Câmara é com o País. Trabalhamos em parceria com governo federal, independentemente de quem o lidere, para entregar resultados que melhorem a vida dos brasileiros”, declarou Motta.

A fala do presidente da Câmara, embora reconhecendo a parceria, coloca o Legislativo como protagonista da saída do Mapa da Fome, o que pode ser interpretado como um movimento oportunista para capitalizar politicamente sobre um resultado que é, na verdade, multifatorial e fruto de políticas de diferentes governos e poderes.

Uma Conquista, Múltiplas Perspectivas

A saída do Brasil do Mapa da Fome é um dado concreto e positivo, fruto de esforços que permitiram que o índice de risco de subnutrição caísse abaixo do limite de 2,5%. No entanto, a análise dos dados e das declarações revela um cenário mais complexo: uma conquista celebrada, mas que ocorre em meio a um potencial produtivo vastíssimo ainda não explorado e a uma disputa pela autoria entre diferentes esferas do poder.

A reflexão que fica é se o Brasil está realmente utilizando todo o seu potencial e inteligência técnica para erradicar a fome de forma estrutural e definitiva, ou se estamos apenas “gerenciando” o problema com o “mínimo” possível, enquanto a pauta se torna um palanque político.

Fonte: RHC

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *