Congresso derruba vetos de lula e flexibiliza licenciamento ambiental

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp
Como fica a lei do licenciamento ambiental após Congresso derrubar parte dos vetos de Lula

Decisão restitui dispositivos que reduzem exigências, ampliam licenciamento automático e transferem mais poder a estados e municípios, reacendendo alertas sociais, ambientais e econômicos.

O Congresso Nacional derrubou, nesta semana, parte dos vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Lei Geral do Licenciamento Ambiental, restituindo dispositivos que flexibilizam etapas do processo de autorização para obras, empreendimentos e atividades potencialmente poluidoras. A decisão reabre um debate que atravessa décadas no Brasil: como equilibrar agilidade para investimentos e proteção de territórios sensíveis, populações tradicionais e ecossistemas estratégicos.

Com a derrubada dos vetos, volta a valer a ampliação da Licença por Adesão e Compromisso (LAC), que permite a liberação automática de empreendimentos mediante autodeclaração, inclusive para atividades de impacto moderado. Estados e municípios passam a ter autonomia ampliada para dispensar estudos prévios e definir critérios de licenciamento, enfraquecendo a obrigatoriedade de análises técnicas federais e reduzindo a necessidade de pareceres vinculantes de órgãos como Ibama, ICMBio e Funai.

Na prática, o novo desenho regulatório acelera obras e reduz custos para setores como energia, infraestrutura, logística, mineração e agronegócio, que pressionavam há anos por um modelo mais rápido e padronizado. Governadores e prefeitos também comemoram o poder local ampliado. Mas, para especialistas, organizações ambientais e órgãos técnicos, a mudança abre brechas preocupantes.

A flexibilização diminui a exigência de EIA-Rima em diversos casos, fragiliza consultas a povos indígenas e quilombolas, previstas na Convenção 169 da OIT e pode estimular uma verdadeira “guerra regulatória” entre estados, com regiões oferecendo licenças mais rápidas para atrair investimentos. O risco, segundo entidades ambientais, é o aumento de desmatamento, conflitos socioambientais, degradação de biomas como Amazônia e Cerrado e maior vulnerabilidade a desastres como rompimentos de barragens, contaminação de rios e pressão sobre comunidades tradicionais.

O movimento também deve gerar efeitos macroeconômicos e políticos. No curto prazo, obras devem ser destravadas; no médio prazo, cresce a possibilidade de judicialização, disputas federativas e insegurança jurídica. Internacionalmente, a flexibilização tende a desgastar a imagem do Brasil em temas climáticos e ambientais, justamente num momento em que investidores e organismos multilaterais intensificam exigências de governança e sustentabilidade.

Para setores produtivos, trata-se de um avanço para competitividade e redução da burocracia. Para ambientalistas e técnicos, é um retrocesso histórico que coloca em risco áreas sensíveis e fragiliza políticas públicas estruturantes. O fato é que a derrubada dos vetos marca uma mudança profunda na gestão ambiental brasileira cujos impactos reais serão sentidos ao longo dos próximos anos.

Linha do Tempo:

2021–2023: Pressão crescente por uma “lei geral”

Setores de infraestrutura, agro, energia e construção pressionam há anos por uma legislação unificada que reduza burocracias e padronize processos. Ambientalistas e órgãos técnicos resistem por causa do risco de fragilização de proteção ambiental.

2024: Texto-base avança no Congresso

O Congresso articula um texto com forte peso de setores produtivos, incluindo:

  • ampliação da Licença por Adesão e Compromisso (LAC),
  • flexibilização para obras consideradas de “baixo ou médio impacto”,
  • redução de exigências de EIA-Rima.

Maio–Junho/2025: Aprovado o projeto final

O texto final chega ao Palácio do Planalto com artigos considerados sensíveis por órgãos ambientais federais (Ibama, ICMBio, MMA).

Julho/2025: Lula veta 50+ dispositivos

O governo argumenta que alguns pontos violavam:

  • proteção de terras indígenas e quilombolas,
  • áreas de preservação,
  • consulta prévia (Convenção 169/OIT),
  • critérios técnicos minimamente seguros para licenciamento.

Novembro/2025: Congresso derruba parte significativa dos vetos

Com forte mobilização da bancada ruralista e governadores, 52 vetos são derrubados.
Resultado: o texto original — mais flexível — volta a valer em pontos-chave.

O que muda na prática

1. LAC para empreendimentos maiores

Antes: apenas atividades com impacto muito baixo.
Agora: estados e municípios podem autorizar obras de médio impacto por autodeclaração, sem vistoria prévia.

Risco: licenças concedidas sem análise técnica adequada.
Benefício (para o setor produtivo): rapidez e redução de custos.

2. Menor poder dos órgãos federais

Pareceres de Ibama, ICMBio e Funai não são mais vinculantes.
Mesmo com parecer técnico contrário, estados e municípios podem liberar projetos.

Risco: conflitos federativos e decisões políticas sobre técnicas.
Benefício: mais autonomia local e potencial de destravar obras paradas.

3. Redução de exigências de estudos ambientais

Para diversos empreendimentos, o EIA-Rima vira exceção, não regra.

Risco: aumento de danos ambientais irreversíveis.
Efeito econômico: aceleração de projetos de infraestrutura, rodovias, hidrelétricas e mineração.

4. Consulta prévia a povos indígenas e quilombolas fragilizada

Vários vetos que protegiam a consulta obrigatória foram derrubados.

Risco: judicialização pesada e violação da Convenção 169/OIT.
Efeito político: pressão internacional contra o Brasil.

Leia também:

5. Regulamentação fragmentada pelo país

Estados e municípios agora terão responsabilidade maior para definir regras.

Risco: “guerra regulatória”, alguns locais facilitam ao máximo para atrair investimentos.
Benefício: adequação regional e decisões mais rápidas.

Consequências (curto prazo)

1. Aceleração de obras e projetos

Setores de energia, logística e agro devem ampliar pedidos e obter licenças mais rápido.

2. Reação imediata de ONGs e MPF

Haverá ações judiciais contestando constitucionalidade dos dispositivos.

3. Tensão com órgãos técnicos federais

Ibama, ICMBio e Funai ficam com menos autonomia, o que pode gerar crises internas e afastamento de técnicos de referência.

4. Pressão internacional

Investidores ESG e diplomacias vão cobrar mais rigor do Brasil (especialmente UE e EUA).

Consequências (médio prazo)

1. Aumento de conflitos socioambientais

  • povos indígenas,
  • quilombolas,
  • ribeirinhos,
  • comunidades extrativistas.

Projetos podem avançar sobre territórios sem consulta adequada.

2. Segurança jurídica instável

Com mais licenças rápidas e menos estudos, cresce o risco de judicialização e paralisações posteriores.

3. Impacto em acordos internacionais

O tema pode afetar:

  • acordos climáticos,
  • financiamento verde,
  • renegociação de metas ambientais.

4. Desmatamento e degradação acelerados

Especialmente em Cerrado, Amazônia e Caatinga (ambientes vulneráveis).

Consequências (longo prazo)

1. Aumento de vulnerabilidade a desastres ambientais

Mais obras liberadas sem estudos podem gerar novos “Marianas” e “Brumadinhos”.

2. Impacto na biodiversidade e no clima

Redução de áreas naturais preservadas, contaminação de rios e perda de fauna/flora.

3. Perda de credibilidade internacional

O Brasil vinha recuperando liderança climática; agora pode retroceder.

4. Pressão social e política por nova revisão da lei

Assim como ocorreu com o Novo Código Florestal, o tema vai voltar ao debate em alguns anos.

Síntese da Análise (equilibrada e direta)

A derrubada dos vetos não é um avanço nem um retrocesso absoluto, mas ela:

  • acelera licenças, obras e investimentos (benefício concreto para o setor produtivo);
  • enfraquece salvaguardas ambientais fundamentais, aumentando riscos reais;
  • concentra poder em estados e municípios, sem garantir estrutura técnica;
  • expõe o Brasil a desgaste internacional e judicialização interna;
  • eleva tensões com órgãos ambientais federais e comunidades tradicionais.

É uma mudança estrutural que vai reconfigurar a relação entre economia e meio ambiente por muitos anos.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *