Enquanto se projeta como líder climático, o país patina na logística básica para receber a maior conferência ambiental do planeta
A COP30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, está marcada para novembro em Belém do Pará — um feito histórico para o Brasil, que sediará pela primeira vez a cúpula no coração da Amazônia. Mas a cinco meses do evento, o país que quer ditar regras para o futuro do clima ainda não sabe onde vai colocar seus convidados.
Desde janeiro, o Comitê Organizador da COP30 informa que a plataforma de hospedagem — terceirizada — está em “fase final de contratação”. Quase metade do ano se passou e o cenário não mudou. Não há sistema oficial para reservar hotéis, nem diretrizes claras para o setor turístico local, que já lida com incertezas, especulação de preços e ausência de infraestrutura compatível com um evento desse porte.
Entre a fé e a diplomacia: Belém não é Paris
Belém é uma cidade vibrante, marcada por sua cultura, hospitalidade e tradição religiosa. O Círio de Nazaré, uma das maiores manifestações católicas do mundo, mobiliza milhões de romeiros todos os anos. Mas o perfil desse público é profundamente diferente do que se espera para a COP.
Romeiros se hospedam com parentes, dormem em sacos de dormir, improvisam. Já diplomatas, chefes de Estado, negociadores internacionais e jornalistas de mais de 190 países exigem outra estrutura — segurança, transporte, centros de convenções operacionais, acomodações padronizadas e conectividade plena. A diferença é gritante. E o tempo está escorrendo pelos dedos.
Planejamento climático não combina com improviso
É irônico que o mesmo governo que cobra metas ousadas de países ricos não consiga garantir um simples sistema de reservas hoteleiras para um evento que organiza em casa. O Brasil insiste em ser ouvido nas negociações internacionais, mas continua tropeçando nos bastidores da diplomacia ambiental.
O risco é claro: transformar a COP30 em um vexame logístico. O que deveria ser uma vitrine de liderança climática pode virar um retrato de amadorismo administrativo.
Quando a retórica é maior que a estrutura
A COP30 é muito mais que um evento: é uma oportunidade geopolítica. Reúne os olhos do mundo para discutir o destino da humanidade — e o Brasil tem um papel estratégico, sobretudo com a Amazônia como palco. Mas sem planejamento, esse protagonismo se esvazia. O legado se perde.
Fazer história exige mais do que discursos em fóruns internacionais. Exige organização, seriedade e competência para cuidar dos detalhes. Afinal, nenhuma causa se sustenta quando o básico — como onde dormir — ainda é um problema.
