Alta da Selic, inflação persistente e custo crescente de rolagem dos títulos pressionam o endividamento e desafiam o planejamento do Ministério da Fazenda.
A dívida pública brasileira voltou a subir e já ultrapassa o limite projetado pelo próprio governo para 2025, acendendo um novo alerta no campo fiscal. Segundo dados recentes do Tesouro Nacional, a combinação de Selic ainda elevada, inflação resistente e custo crescente de rolagem dos títulos explica a maior parte desse avanço, que pressiona o Ministério da Fazenda num momento em que o arcabouço fiscal tenta estabilizar expectativas e reduzir incertezas.
Os títulos atrelados à taxa básica de juros, que continuam sendo emitidos com remunerações significativamente altas, têm elevado o custo total da dívida. Mesmo com expectativas de redução gradual da Selic ao longo de 2025, o efeito acumulado da política monetária dura de 2024 e início de 2025 continua impactando o passivo público. Além disso, a inflação, que aumentou o rendimento dos títulos indexados ao IPCA, também contribuiu para ampliar o endividamento.

O resultado prático é que a dívida bruta, que o governo previa manter dentro de um intervalo mais controlado no próximo ano, já supera as estimativas, um movimento que coloca pressão adicional sobre o cumprimento das metas do arcabouço fiscal, cujo funcionamento depende justamente da capacidade do governo de estabilizar a trajetória da dívida como proporção do PIB.
Economistas avaliam que o cenário exige cautela. O Tesouro precisará lidar com um custo de financiamento mais caro, ao mesmo tempo em que uma desaceleração econômica pode limitar o crescimento da arrecadação. Além disso, o ambiente político, marcado por disputas sobre aumento de gastos, renúncias tributárias e desacordos entre Congresso e Executivo, tende a agravar a percepção de risco.
Para o mercado, o avanço da dívida representa um teste de credibilidade fiscal. Pressões sobre prêmios de risco, distorções no câmbio e volatilidade adicional nos juros futuros já aparecem como possíveis consequências. A deterioração também pode dificultar propostas do Ministério da Fazenda para destravar investimentos, ampliar espaço orçamentário e convencer investidores estrangeiros do compromisso com sustentabilidade fiscal.
Agora, o governo precisa decidir como ajustar o plano para 2025. Cortes, revisões de metas e medidas adicionais de arrecadação devem entrar no radar nos próximos meses, já que o controle da dívida é peça central para manter confiança, reduzir juros e evitar novo ciclo de incertezas no país.
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