A transição exige mais do que faturamento: planejamento, contabilidade, escolha de regime tributário e visão de médio prazo.
Migrar do MEI para um pequeno ou médio negócio não é só uma questão de bater no teto de faturamento; é um sinal de maturidade empresarial. O MEI é um excelente ponto de partida pela simplicidade e pelo custo baixo, mas chega uma hora em que as demandas crescem: mais clientes, necessidade de contratar gente, abrir filial, incluir sócio ou atuar em atividades não permitidas no enquadramento. É nesse momento que insistir em permanecer como MEI pode virar obstáculo e, dependendo do caso, até gerar passivos por desenquadramento tardio e recolhimentos retroativos. Com planejamento, a transição deixa de ser trauma e vira trampolim: você passa a jogar com outras cartas regimes tributários mais aderentes ao seu modelo, mais credibilidade com fornecedores e bancos, acesso a crédito e a licitações, e liberdade para expandir sem medo de “estourar” limites.
Em termos de contexto, o universo de microempreendedores no Brasil é gigantesco: em 2022, havia 14,6 milhões de MEIs ativos, segundo o IBGE. Esse contingente mostra a força da porta de entrada, mas também o tamanho do funil que pode (e precisa) subir de nível quando o negócio ganha corpo. Em paralelo, a dinâmica recente de abertura de empresas reforça a centralidade do MEI: no 1º trimestre de 2025 foram criados 1,407 milhão de pequenos negócios, dos quais 78% são MEIs, segundo levantamento do Sebrae divulgado pelo governo federal.
Quando buscamos números de migração efetiva (MEI → ME/EPP), a fotografia nacional ainda carece de estatísticas consolidadas. Mas há bons recortes estaduais: no Ceará, por exemplo, 12.140 empreendedores deixaram o status de MEI em 2022, algo próximo de 14% dos MEIs constituídos naquele ano no estado, de acordo com a Junta Comercial local (Jucec). É um dado concreto que ilustra a tendência de “subida de degrau” quando o negócio pede mais estrutura.
Se aplicássemos apenas como exercício ilustrativo essa proporção de 14% ao universo nacional de 14,6 milhões de MEIs, teríamos algo na ordem de 2 milhões de migrações ao longo do tempo (não é um dado oficial), e sim uma projeção para dimensionar grandeza e reforçar a mensagem: migrar não é exceção; é um caminho natural para milhares de negócios que amadurecem.
Na prática, a transição pede três movimentos coordenados. Primeiro, organização contábil: a partir do momento em que você sai do MEI, a escrituração deixa de ser opcional e um(a) contador(a) com entendimento do seu setor faz diferença, inclusive para simular qual regime tributário pesa menos no seu caso. Segundo, formalização do desenquadramento e atualização cadastral (Simples Nacional, Junta Comercial, Receita, eventuais órgãos estaduais/municipais), cuidando de prazos para evitar multas e retroatividades. Terceiro, governança de bolso: separar definitivamente finanças pessoais das da empresa, emitir notas para todas as vendas/serviços, ajustar fluxo de caixa e criar reserva para a “rampa” inicial de custos fixos (contabilidade, obrigações acessórias, licenças). Feito isso, os benefícios começam a aparecer: mais fôlego para faturar, contratar, atrair sócios e negociar melhor com fornecedores e bancos.

Quais os Principais Benefícios de Migrar de MEI para ME?
– Acesso a linhas de créditos com valores mais altos nos bancos privados e públicos;
– Possibilidade de contratar mais funcionários com carteira assinada;
– Permite ter acesso a melhores fornecedores de diferentes segmentos;
– Proporciona a oportunidade de participar de maior número de editais públicos e privados sem se preocupar com um limite de faturamento muito baixo;
– Ajuda a elevar o nível de faturamento anual para o negócio.

Em resumo: sair do MEI é um rito de passagem. Dá trabalho? Dá. Exige disciplina e algum investimento? Exige. Mas é justamente o que blinda o crescimento e abre portas que ficam fechadas para quem permanece eternamente na fase inicial. Com um plano simples (contador + desenquadramento no tempo certo + gestão financeira arrumada), o “salto” deixa de ser risco e vira estratégia de expansão e os números do ecossistema empreendedor brasileiro mostram que há espaço, mercado e exemplos concretos de que essa é a direção certa.
Fonte: IBGE/Sebrae
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