Eles têm dinheiro, acesso à informação e uma desconfiança profunda do sistema financeiro tradicional. São jovens, mas não ingênuos. E enquanto Wall Street tenta entender como lidar com essa nova geração de investidores, eles já estão em outro lugar: investindo em startups ainda fora da bolsa, comprando terrenos digitais, apostando em arte tokenizada e colocando dinheiro em imóveis e ativos alternativos com potencial de valorização exponencial.
Essa é a nova elite financeira formada por millennials e membros da Geração Z, descrita em reportagem da Bloomberg como o novo perfil preferido do setor, justamente por estarem dispostos a romper com a lógica dos portfólios tradicionais.
Moldados pelas crises de 2008 e 2020, esses investidores jovens cresceram vendo bancos quebrando, planos de previdência ruindo e fundos se desvalorizando enquanto bilionários do Vale do Silício multiplicavam fortunas com empresas privadas, não listadas em bolsa. A desilusão com o “modelo seguro” de acumulação os empurrou para o universo das oportunidades alternativas.
Investimentos não convencionais: o novo normal
Pre-IPO de unicórnios, imóveis fracionados, criptomoedas, colecionáveis raros, arte digital, royalties musicais, terrenos virtuais no metaverso. O que antes era nicho agora virou portfólio. Para esses jovens investidores, diversificação não é entre ações e títulos do Tesouro, mas entre realidades e tecnologias.
Não se trata apenas de buscar lucro. Há uma cultura de investimento identitário: eles preferem colocar dinheiro em marcas com propósito, startups que representam seus valores e ativos que refletem estilo de vida e não só desempenho trimestral.
Fintechs, plataformas de investimento privado e até bancos tradicionais estão correndo para adaptar produtos a esse público: rodadas fechadas, cotas acessíveis em ativos alternativos e atendimento digital com narrativa personalizada.
Um risco calculado, com outro tipo de fé
Diferente da geração de seus pais, que buscava segurança e retorno estável, essa nova geração busca autonomia e protagonismo. Estão mais dispostos ao risco e apostam em em dados, acesso direto e autonomia de decisão. É uma geração que prefere investir em algo que pode cair 40% num mês, mas que ela entende, do que confiar cegamente em um gestor de fundo com PowerPoint.
Há também uma dose de otimismo tecnológico radical: a crença de que os maiores multiplicadores de riqueza do século XXI não virão da bolsa, mas de movimentos disruptivos, exponenciais e descentralizados.
E o sistema, como reage?
Wall Street tenta não perder esse público e por isso começa a oferecer o que antes parecia impensável: carteiras com NFTs, produtos de impacto, participações em startups, fractional real estate e, claro, assessoria via inteligência artificial. Os grandes bancos já entenderam que essa geração não quer mais apenas “consultoria”, ela quer envolvimento, narrativa e, de certa forma, controle.
A pergunta agora é: essa revolução será absorvida pelo sistema financeiro ou vai superá-lo por fora?
O que sabemos até agora é que o investidor jovem e rico do século XXI não é mais um herdeiro passivo ou um aplicador cauteloso. É um curador de ativos. Escolhe onde coloca dinheiro com base em propósito, estética, tecnologia e retorno simbólico, tanto quanto financeiro.
O mercado está mudando não apenas nas plataformas, mas na mentalidade. E talvez o maior ativo dessa nova geração não seja o dinheiro, a liberdade de escolher onde ele vai fazer sentido.
Fonte: JHC/Bloomberg