Medida provisória que substitui o aumento do IOF é crucial para o equilíbrio fiscal de 2025; investidores também avaliam o impacto político do diálogo entre os presidentes do Brasil e dos EUA.
Os mercados iniciaram a terça-feira (7) em compasso de espera diante das incertezas fiscais no Brasil e da repercussão internacional da conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o norte-americano Donald Trump. A expectativa gira em torno da votação da Medida Provisória 1.303/25, que substitui o aumento do IOF e é considerada essencial para fechar as contas públicas dentro da meta de resultado primário de 0,25% do PIB em 2025.
A MP, que perde validade nesta quarta-feira (8), vem sendo redesenhada pelo governo após sucessivas resistências no Congresso. O relator, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), chegou a sugerir a criação de alíquotas de 7,5% para LCIs e LCAs, mas recuou após pressão da bancada ruralista e do setor imobiliário. Agora, a equipe econômica tenta preservar entre R$ 15 e R$ 17 bilhões dos R$ 20 bilhões originalmente previstos em arrecadação, segundo fontes próximas ao Ministério da Fazenda.
Em reunião na noite de segunda (6), o ministro Fernando Haddad admitiu concessões para acelerar a votação. O governo deve manter a isenção para LCIs, LCAs e LCDs, reduzir a tributação das bets de 18% para 12% e criar tratamento diferenciado para fintechs, que argumentam não poder ser equiparadas a bancos tradicionais.
A estratégia é aprovar o texto ainda hoje na comissão mista e encaminhá-lo ao plenário da Câmara, o que, se bem-sucedido, sinalizaria ao mercado a disposição do governo de preservar a meta fiscal, mesmo que em versão desidratada.

Bolsas e câmbio reagem com prudência
O Ibovespa recuava 0,74%, aos 142.547 pontos, acompanhando o movimento de aversão a risco. O dólar à vista subia 0,43%, cotado a R$ 5,3330. Ontem, o índice já havia fechado em queda de 0,41%, pressionado por ações da Petrobras e dos grandes bancos.
O clima mais ameno entre EUA e Brasil, após o telefonema entre Lula e Trump, não foi suficiente para inverter o humor dos investidores, mas ajudou a conter o avanço do dólar. O presidente brasileiro pediu a Trump a retirada da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros e reiterou convite para que participe da COP30, em Belém. A sinalização de diálogo foi bem recebida por setores exportadores e pelo agronegócio, mas ainda é vista com cautela pelo mercado.
Cenário externo: instabilidade política e apetite seletivo ao risco
No exterior, a atenção permanece dividida entre o shutdown do governo americano, a crise política na França e as falas de dirigentes do Federal Reserve ao longo do dia. Sem novos dados oficiais em função da paralisação da máquina pública nos EUA —, os investidores analisam declarações de Raphael Bostic, Michelle Bowman, Stephen Miran e Neel Kashkari, buscando pistas sobre a trajetória dos juros.
Na Europa, a crise no governo francês continua pressionando o euro e ampliando os spreads da dívida pública. O ouro segue em alta, aproximando-se de US$ 4.000 por onça, reforçando o movimento de busca por proteção.
Na Ásia, apenas Tóquio e Taiwan operaram nesta terça, encerrando o pregão em terreno positivo. A eleição de Sanae Takaichi, no Japão, reacendeu expectativas de políticas fiscais mais expansionistas, enquanto as ações da TSMC impulsionaram o mercado taiwanês após o anúncio de parceria entre a OpenAI e a AMD.
TENDÊNCIAS DO DIA — 07/10/2025
Indicador | Última cotação | Variação | Tendência |
---|---|---|---|
Ibovespa | 142.547 pts | ▼ -0,74% | Cautela fiscal e incerteza sobre MP do IOF |
Dólar comercial | R$ 5,3330 | ▲ +0,43% | Alta leve, em linha com o exterior |
Euro | R$ 5,68 | ▲ +0,32% | Pressão pela crise política francesa |
S&P 500 (futuros) | +0,22% | ▲ | Otimismo seletivo com falas do Fed |
Nasdaq (futuros) | -0,03% | ▬ | Movimento técnico após recordes |
Dow Jones (futuros) | +0,01% | ▬ | Estabilidade |
Petróleo Brent | US$ 65,55 | ▲ +0,12% | Alta leve após decisão da Opep+ |
Ouro | US$ 3.987/onça | ▲ +0,40% | Busca por proteção |
Bitcoin | US$ 71.200 | ▲ +0,8% | Rali sustentado durante shutdown nos EUA |
IGP-DI (FGV) | setembro | +0,22% | Alta moderada — sinal de descompressão inflacionária |
Entre as commodities, o petróleo Brent subia levemente, a US$ 65,55 o barril, após a Opep+ anunciar aumento de produção de 137 mil barris diários, número considerado insuficiente para alterar o quadro global de oferta.
O mercado doméstico opera em modo defensivo, equilibrando o risco fiscal e a expectativa política em torno da MP do IOF. A conversa entre Lula e Trump trouxe algum alívio diplomático, mas não o suficiente para mudar o apetite global por risco. Lá fora, o ouro brilha e o petróleo respira, reflexo da cautela com o impasse americano e a instabilidade francesa.
Fonte: B3/Veja
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