Ouro brilha em meio à tensão política e fiscal

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Metal supera US$ 4.000 pela primeira vez na história, enquanto investidores aguardam a ata do Fed e o governo corre para salvar a MP do IOF.

O dia começa com o brilho do ouro ofuscando o resto dos mercados. O metal ultrapassou, pela primeira vez na história, a marca de US$ 4.000 por onça-troy, consolidando-se como o principal ativo de refúgio em meio a um cenário global marcado por incertezas políticas e fiscais. A escalada é alimentada por uma combinação explosiva de fatores. O shutdown do governo americano, que já dura mais de uma semana, a preocupação com o desequilíbrio das contas públicas dos Estados Unidos, e as dúvidas crescentes sobre a independência do Federal Reserve. A ausência de dados oficiais reforçou a busca por ativos considerados seguros e o ouro voltou a ocupar o espaço que o dólar parece ter perdido temporariamente como porto confiável em tempos de turbulência.

O movimento também reflete a fragilidade das expectativas sobre o crescimento global. Nos Estados Unidos, os investidores aguardam a divulgação da ata da última reunião do Fed, prevista para esta quarta-feira (8). O documento deve trazer pistas sobre o ritmo dos próximos cortes de juros, após a redução de 25 pontos-base em setembro. As apostas majoritárias indicam mais duas quedas de igual magnitude até o fim do ano, mas dirigentes da instituição têm adotado um discurso mais cauteloso, o que aumenta a ansiedade em torno da ata. Sem novos indicadores oficiais por causa da paralisação da máquina pública, o mercado deve interpretar cada linha como termômetro da política monetária americana.

Na Europa, o tom é ligeiramente mais otimista. As bolsas operam em alta moderada após dias de tensão política, especialmente na França, onde o presidente Emmanuel Macron tenta recompor o governo e evitar o agravamento da crise institucional. O movimento também acompanha a leve melhora do humor global, impulsionada pela expectativa de que o Federal Reserve mantenha uma postura acomodatícia diante do enfraquecimento da economia americana. Ainda assim, o euro segue pressionado, e o avanço do ouro reforça a leitura de que o apetite por risco permanece limitado.

Na Ásia, o cenário é misto. Com a China e a Coreia do Sul ainda fechadas pelo feriado da Golden Week, os investidores concentraram atenções em Tóquio e Hong Kong, onde os principais índices recuaram acompanhando a realização de lucros em Wall Street. No Japão, a eleição de Sanae Takaichi, política associada a uma agenda fiscal mais expansionista, tem alimentado expectativas de mudanças na condução econômica, o que pressiona os rendimentos dos títulos públicos e o iene.

Entre as commodities, o petróleo Brent voltou a subir, negociado em torno de US$ 66,25 o barril, em movimento de correção após a Opep+ confirmar um aumento modesto na produção. Os investidores também acompanham os dados semanais de estoques de petróleo nos Estados Unidos, que podem indicar uma desaceleração da demanda.

No Brasil, o foco volta-se para Brasília, onde o governo tenta aprovar a Medida Provisória 1.303/25, considerada essencial para o cumprimento da meta fiscal de 2025. A MP, que perde validade à meia-noite, passou ontem na comissão mista por margem apertada, 13 votos a 12, após concessões que reduziram sua projeção de arrecadação de R$ 20,9 bilhões para cerca de R$ 17 bilhões. A proposta mantém a isenção de IR para LCIs e LCAs e reduz a alíquota sobre apostas esportivas, atendendo a pressões do Congresso. Apesar do esvaziamento, o Ministério da Fazenda avalia que a aprovação parcial já seria suficiente para sinalizar comprometimento com o ajuste.

O Ibovespa, que caiu mais de 1,5% na véspera, pode ensaiar recuperação hoje se o viés positivo do exterior se mantiver. O EWZ, fundo que replica as ações brasileiras em Nova York, abriu em alta, refletindo o alívio dos futuros americanos. Às 7h18, os contratos futuros do S&P 500 subiam 0,13%, os do Nasdaq, 0,19%, e os do Dow Jones, 0,13%. O movimento é tímido, mas reforça a expectativa de um pregão mais estável após dias de forte volatilidade.

Na política, a pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta manhã mostrou leve melhora na avaliação do governo Lula, com 48% de aprovação e 49% de desaprovação — o melhor índice desde janeiro. O resultado tende a reforçar o discurso de que o governo mantém margem para avançar em medidas impopulares de ajuste, ainda que o espaço político para novas reformas seja reduzido.

O quadro geral, porém, segue delicado: um mercado global em modo defensivo, juros em queda, ouro em disparada e fiscal sob pressão. Em outras palavras, um ambiente de risco controlado, mas ainda sem confiança suficiente para apostas mais ousadas.

TENDÊNCIAS DO DIA — 08/10/2025

IndicadorÚltima cotaçãoVariaçãoTendência
OuroUS$ 4.012/oz▲ +0,65%Recorde histórico — refúgio em meio ao caos fiscal
Ibovespa141.870 pts▲ +0,28%*Alívio moderado após queda de 1,5% na véspera
Dólar comercialR$ 5,32▼ -0,18%Recuo leve, acompanhando o viés global positivo
EuroR$ 5,66▲ +0,24%Pressão pela crise política francesa
S&P 500 (futuros)+0,13%Expectativa pela ata do Fed
Nasdaq (futuros)+0,19%Recuperação parcial das big techs
Dow Jones (futuros)+0,13%Sessão de leve recuperação
Petróleo BrentUS$ 66,25▲ +1,22%Alta com ajuste de produção da Opep+
BitcoinUS$ 125.400▲ +0,75%Rali paralelo ao ouro e ao apetite por refúgio digital
IGP-DI (FGV)setembro+0,22%Inflação controlada, sem surpresas

Por Hosa Freitas
Jornalista, consultora e especialista em comunicação institucional.

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