Imagine uma empresa que contrata dois links de internet: um de 50 megabits e outro de 40. Um da Vivo e outro da Claro. Um é backup do outro porque, se um falhar, o outro entra em operação. Tudo em nome da tão falada “resiliência corporativa”.
Mas o que ninguém se dá conta é que essa ação preventiva esconde um problema de governança e maturidade empresarial gigante. Se o modelo atual de prevenção é ter um link principal e outro reserva, significa que a empresa paga pelos dois, mas só utiliza um.
Isso é eficiente? Claro que não. Mas é “prudente”. Ou, pelo menos, parece ser. A maioria concorda com isso e diz que está tudo certo. Mas não está.
Se as empresas tivessem um pouco mais de visão e estratégia, saberiam que já existe tecnologia em que ambos os links poderiam trabalhar juntos, somando inclusive as velocidades de ambos e entregando um “tubo virtual” único de 90 megabits (virtualizando o envio de pacotes de dados).
Ou seja: pago por dois links E uso os dois, simultâneamente. Mais velocidade, mais estabilidade, mais eficiência.
A tecnologia para unificar links já existe, é acessível e comprovadamente segura. Chama-se SD-WAN (Software Defined Wide Area Network). Se alguém quiser conhecer, é só me chamar no privado, pois sou investidor nessa tecnologia ( Atielo SD-WAN), que revoluciona não só este benefício, mas muitos outros aspectos da conectividade inteligente.
O que falta não é conhecimento técnico. É vontade de mudar o padrão mental. A maior barreira não é a infraestrutura, e sim a cultura. Muitos gestores ainda preferem manter um modelo previsível e ineficiente a correr o risco de fazer diferente. E não existe mercado mais conservador atualmente do que o de TELECOM ( isso é papo para outro artigo).
Peter Drucker dizia que “a cultura engole a estratégia no café da manhã”. E talvez também devore a inovação no almoço. Porque as empresas se acostumaram a repetir práticas herdadas, chamando de prudência o que, na verdade, é medo: medo de errar, de assumir responsabilidade, de abandonar o conforto da rotina.
E aqui começa o paradoxo: a empresa paga por eficiência, mas administra o investimento com lógica de emergência.
A insistência em deixar um link parado é mais do que um erro técnico: é uma metáfora da ineficiência estrutural das corporações. Que aqui retrato nos links de internet, mas há várias outras a serem aprimoradas.
É a mesma lógica que faz empresas contratarem softwares que não se conversam, consultorias que repetem diagnósticos e projetos que nunca saem da fase de PowerPoint. Aparência de controle, essência de desperdício.
E o mais curioso é que, nesse teatro corporativo, o desperdício é muitas vezes premiado. Repetir o modelo vigente é mais “seguro” politicamente do que desafiar o status quo. Assim, as empresas se tornam modernas no discurso e arcaicas na prática, falam em transformação digital, mas agem com a mentalidade de aparelho de fax.
O paradoxo dos dois links é, portanto, o símbolo de uma era em que a tecnologia avança mais rápido que a coragem das instituições. Modernizar não é instalar novos sistemas, é rever o sentido do que já se faz.
A verdadeira inovação não começa com um investimento. Começa com uma pergunta incômoda para este paradoxo:
“Por que continuamos pagando por algo que não usamos?”
E essa pergunta deveria ser feita por todas. Porque, do ponto de vista tecnológico, é inadmissível que as organizações no mundo inteiro ainda não tenham procurado uma solução para isso.
Até que as empresas aprendam a responder honestamente, seguirão conectadas a uma rede invisível, feita de hábitos antigos, contratos mal revisados e decisões que só parecem racionais.
Porque, no fim, o problema não é técnico. É mentalidade travada em modo redundante.
“Inovação não é sobre ferramentas. É sobre a coragem de abandonar o velho antes que ele te custe caro.”
Por Reges Bronzatti
Advogado Especialista em Negociações de TI | Conselheiro em Inovação & Governança Digital | Mestre em Computação

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