Pressão política, inflação em alta e tensão no mercado marcam o início da disputa pelo cargo mais poderoso da política monetária global
A sucessão no Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, já começou nos bastidores e promete ser tão estratégica quanto sensível. O atual presidente, Jerome Powell, deixará o cargo em maio de 2026, e o governo norte-americano já avalia possíveis nomes para assumir o posto. A informação foi confirmada pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, em entrevista recente, sinalizando que o processo de transição está em andamento.
Entre os nomes cogitados estão o próprio Scott Bessent, hoje titular da Secretaria do Tesouro; o diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett; o ex-presidente do Fed e crítico declarado de Powell, Kevin Warsh; o ex-presidente do Banco Mundial e ex-integrante da gestão Trump, David Malpasse e Christopher Waller. A lista mostra que a sucessão poderá refletir mais um alinhamento político do que técnica. Essa linha de pensamento acendeu alertas sobre a independência da instituição monetária mais influente do planeta.
A pressão sobre Powell se intensificou desde a retomada da agenda tarifária americana. A inflação ao consumidor, em junho, subiu para 2,7% em relação ao ano anterior, com avanço de 0,3% no mês, impulsionada pelas tarifas anunciadas pelo governo Trump. O índice superou expectativas e fortaleceu os argumentos de analistas e economistas que alertam para o risco de repasse de custos ao consumidor. Representantes do JPMorgan, por exemplo, afirmaram que os impactos tarifários tendem a se intensificar ao longo de 2025, embora o “timing e a extensão” desses efeitos ainda sejam incertos.

Diante desse cenário, a política de juros ganha centralidade. O Fed tem sido pressionado por alas políticas a adotar cortes nas taxas de referência, mas os dados inflacionários recentes indicam uma possível necessidade de manutenção ou até de nova alta nos juros. A disputa em torno da sucessão de Powell está, portanto, diretamente relacionada à orientação futura da política monetária dos EUA.
Além disso, cresce a preocupação com a interferência política na autonomia do Fed. O CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, alertou para os riscos de enfraquecimento institucional caso o próximo nomeado não goze de independência técnica. Segundo ele, a percepção de que o banco central pode se tornar uma extensão do Executivo abala a confiança dos mercados e compromete decisões de longo prazo.
Com um mercado cada vez mais volátil, inflação pressionada e expectativas divididas entre ortodoxia e populismo fiscal, o nome que substituirá Powell será decisivo não apenas para os Estados Unidos, mas para todo o sistema financeiro internacional. O anúncio oficial do novo presidente do Fed deverá ocorrer entre agosto e novembro, ainda que o mandato de Powell se encerre apenas em maio de 2026.
Em coletiva de imprensa na cúpula da OTAN, em junho, o presidente Trump fez duras críticas a gestão do atual presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
Por Hosa Freitas,
Jornalista, consultora e especialista em comunicação institucional.