Tarifaço dos EUA expõe fragilidade diplomática do Brasil e impaciência do setor produtivo

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Empresários veem inércia do governo Lula diante de tarifa de 50% que deve entrar em vigor na sexta-feira; Planalto aposta em cautela, mas mercado quer ação concreta

A aplicação da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, prevista para começar na próxima sexta-feira (1º), já é tratada como inevitável nos bastidores do governo e do setor produtivo. Enquanto o presidente Lula faz apelos públicos ao “bom senso” da Casa Branca, empresários do agronegócio, da indústria e de setores estratégicos demonstram cansaço com a falta de resultados concretos nas negociações.

“Chega o dia 1º e o Brasil não chega a um acordo”, resumiu um representante da indústria. “Não tem o que fazer”, reforçou um empresário do agronegócio, em tom de resignação. A leitura geral é de que, por mais que o Brasil esteja formalmente aberto ao diálogo, os Estados Unidos simplesmente não estão interessados em negociar com o atual governo brasileiro e o tempo político joga contra.

Pressão geopolítica e eleição americana

Fontes do alto escalão ouvidas pela jornalista Vivian Oswald (JOTA) falam em um “longo período que começa em 1º de agosto e vai até a eleição de 2026”. Ou seja, o tarifaço é só o começo. O pano de fundo da decisão de Trump tem forte teor político. O presidente americano já deixou claro seu apoio a Jair Bolsonaro e trata o julgamento do brasileiro por tentativa de golpe como “caça às bruxas”.

A carta enviada ao Brasil pelos EUA, segundo fontes do Itamaraty, não deixa espaço para concessões mútuas e exige condições que nem mesmo o governo brasileiro teria como atender, como reverter processos judiciais e abrir espaço irrestrito às big techs. Ou seja, o cenário é de impasse fechado, sem margem para um recuo honroso.

Lula pede conversa, mas não há resposta

Em evento recente, Lula afirmou esperar que “o presidente dos Estados Unidos reflita sobre a importância do Brasil”, e defendeu o diálogo como caminho para lidar com as divergências. Mas até agora, não houve nenhum sinal de abertura formal por parte de Washington, ao contrário do que aconteceu com a União Europeia, que cedeu e fechou um acordo com taxação de 15%.

Mesmo com o chanceler Mauro Vieira nos EUA e os esforços diplomáticos da equipe econômica, nenhuma resposta chegou. Nem de Alckmin, nem de Haddad e nem do Itamaraty.

Empresariado se afasta do Planalto

A frustração é crescente. Empresários ouvidos pela CNN avaliam que o governo Lula tem demonstrado inércia diante de uma crise comercial iminente, que pode gerar perdas bilionárias em exportações. Setores diretamente atingidos, como o agronegócio, siderurgia e químico, já falam abertamente que o governo não fez o que precisava para evitar o tarifaço.

Mesmo entre os que acreditam em alguma pressão do empresariado americano contra as tarifas, o otimismo é contido. “Não sei se os empresários norte-americanos estão tão dispostos assim a brigar pelo Brasil”, afirmou um representante da indústria. “Eles têm seus próprios interesses lá.”

Governo prepara “válvulas de escape”

Enquanto o tarifaço se aproxima, o governo trabalha nos bastidores com um plano de contingência para tentar conter os danos econômicos. Segundo fontes do Planalto, todas as opções estão sobre a mesa, inclusive medidas de retaliação. Mas o foco, neste momento, é evitar mais pressão sobre os gastos públicos.

“Os cenários possíveis já são de conhecimento do presidente Lula”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que se reuniu com o chefe do Executivo na segunda-feira (28) para apresentar um “cardápio de medidas”.

A postura diplomática cautelosa do governo brasileiro pode até ser lida como estratégica, mas o tempo está se esgotando. A entrada em vigor da tarifa de 50% na sexta-feira parece inevitável. E o silêncio da Casa Branca, neste contexto, soa como resposta definitiva.

O que está em jogo agora não é apenas o custo das exportações, mas a credibilidade do Brasil nas negociações internacionais e a capacidade do governo Lula de se mover com agilidade diante de um adversário que, claramente, não está para brincadeira.

Por Hosa Freitas e Merlí

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