Nova rodada de tarifas impostas pelos EUA afeta países aliados e desafia a ordem econômica global criada após a Segunda Guerra
A nova leva de tarifas anunciadas por Donald Trump representa mais do que um ajuste comercial, ao meu ver, trata sim, de uma redefinição das relações internacionais pelo viés da força econômica. Com taxas de até 50% sobre produtos de países aliados, como Brasil, Canadá, Austrália e União Europeia, os Estados Unidos intensificam o uso do comércio como instrumento de pressão geopolítica, num movimento que vem sendo chamado por analistas de “diplomacia tarifária”.
Ao atacar parceiros históricos, a gestão Trump não apenas agrava tensões comerciais, mas enfraquece o multilateralismo e rompe com a lógica de cooperação que guiou a economia global no pós-guerra. Ao longo dos últimos meses ele vem sinalizando que os interesses dos EUA justificam barreiras unilaterais, mesmo quando isso significa romper com tratados, compromissos e previsibilidade.
“Estamos protegendo nossos trabalhadores e deixando claro que os Estados Unidos não serão mais explorados”, disse Trump em evento recente na Flórida, ao anunciar os novos percentuais de alíquota. Na prática, setores como aço, alumínio, automóveis e alimentos processados estão entre os mais atingidos pelas tarifas, afetando diretamente economias como a brasileira.
Instrumento de poder, não de equilíbrio
A lógica que norteia as ações do presidente não é apenas econômica. Segundo especialistas em relações internacionais, as tarifas estão sendo utilizadas como mecanismos de coerção, aplicadas contra países que não se alinham politicamente aos EUA. “Não é mais sobre comércio, é sobre quem se curva e quem resiste”, resume um relatório recente do think tank Atlantic Council.
A resposta internacional tem sido de cautela. Enquanto a União Europeia estuda medidas de retaliação, o Canadá já anunciou que irá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil, por sua vez, se movimenta diplomaticamente, com ações coordenadas entre o Itamaraty, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e representantes do agronegócio, que o setor que poderá ser fortemente prejudicado.
Consequências globais e realinhamentos

A nova onda de tarifas amplia a instabilidade nas cadeias de produção globais. Multinacionais que operam com insumos e componentes de vários países estão tendo que rever contratos, rotas e até bases de operação. Além disso, o movimento incentiva o fortalecimento de blocos alternativos, como o BRICS, que vem se posicionando como espaço de resistência à hegemonia americana.
Ao mesmo tempo, o próprio discurso de “autossuficiência” promovido por Trump ressoa em outras lideranças populistas ao redor do mundo, gerando um efeito dominó de nacionalismo econômico. A médio prazo, isso pode encarecer bens, reduzir competitividade e alimentar ciclos de inflação global, especialmente em países emergentes.
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Reflexão final
A geopolítica das tarifas marca uma ruptura profunda com os ideais liberais do comércio internacional. Quando o maior defensor do “livre mercado” passa a usá-lo como instrumento de punição, toda a lógica de interdependência construída nas últimas décadas entra em xeque.
Mais do que uma medida econômica, as tarifas de Trump levantam uma questão essencial. A quem serve o sistema global e quem pode moldá-lo conforme seus interesses?
Para o Brasil e os demais países do Sul Global, o momento exige estratégia, diplomacia e fortalecimento de laços regionais. O mundo multipolar já não é apenas uma hipótese, ele está se impondo, com tarifas, acordos paralelos e novos centros de influência.
Por Hosa Freitas