STF, Congresso e Casa Branca desenham um cenário de alta tensão para o Brasil. Decisões sobre IOF, precatórios e tarifas expõem riscos crescentes à estabilidade fiscal e à inserção internacional do país.
O mercado brasileiro segue travado entre a estagnação interna e o cerco geopolítico externo. Na terça-feira (15), o Ibovespa encerrou o dia praticamente estável, pressionado pelas quedas de Vale e Petrobras e pela ausência de catalisadores econômicos relevantes. O tom dominante não foi técnico, mas político e a quarta-feira começou no mesmo clima.
No Supremo Tribunal Federal, fracassou a tentativa de conciliação sobre o aumento do IOF. Sem consenso entre governo e Congresso, a decisão agora caberá exclusivamente ao ministro Alexandre de Moraes. Enquanto isso, o Legislativo tenta recuperar protagonismo instalando uma comissão mista para analisar alternativas ao imposto e aprovando o relatório preliminar da LDO de 2026, que mantém a meta de superávit primário de 0,25% do PIB. Mas outra PEC, em paralelo, propõe retirar os precatórios do teto de gastos e incorporá-los progressivamente à meta fiscal, uma solução que, na prática, adia o problema e agrava o risco fiscal estrutural do país.
No campo político, o Planalto deve vetar o projeto que amplia o número de deputados, medida tecnicamente defensável, mas com custo elevado na relação com o Congresso. O clima é de instabilidade institucional crônica e isso afeta diretamente o ambiente de negócios.

No front internacional, os riscos se multiplicam. A Casa Branca anunciou a abertura de uma investigação formal contra o Brasil com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974. O mesmo instrumento jurídico usado contra a China durante o governo Trump. O alvo são as práticas comerciais brasileiras em áreas sensíveis como comércio digital, etanol, desmatamento e propriedade intelectual. Embora o tom seja mais técnico e menos beligerante do que em ciclos anteriores, o impacto potencial sobre tarifas, cadeias produtivas e acordos comerciais é significativo.
A tensão ganha contornos mais amplos com a postura americana frente ao restante do mundo. Trump dobrou a aposta em sua cruzada tarifária, mirando setores estratégicos e anunciando novas tarifas de até 200% a partir de agosto. O CPI americano subiu para 2,7% em 12 meses e começa a incorporar os efeitos desses embates, reduzindo as chances de corte de juros pelo Fed. Com o PPI previsto para hoje, o mercado busca sinais de repasse inflacionário no atacado.
A temporada de balanços começou movimentada, com Nasdaq em alta impulsionado pela Nvidia. Mas fora do setor de tecnologia, os dados são mais mistos. Bancos como JPMorgan e Citigroup superaram expectativas, enquanto o Wells Fargo, apesar de lucro acima do esperado, frustrou o mercado com revisão pessimista das projeções. Para hoje, destaque para os resultados de Bank of America, Goldman Sachs, Johnson & Johnson e Morgan Stanley.
No xadrez político doméstico, a disputa velada entre Tarcísio de Freitas e Eduardo Bolsonaro colocou novamente a direita em pauta. A intervenção pública de Jair Bolsonaro, ao elogiar Tarcísio e desautorizar o filho, foi lida como sinal de maturidade estratégica da ala mais institucional do campo conservador, um elemento essencial para viabilizar uma alternativa ao atual governo em 2026.
No G20, a ausência americana esvaziou a tentativa sul-africana de recolocar os países em desenvolvimento no centro da agenda global. Trump desprezou os encontros e impôs sua narrativa unilateral. O Brasil, anfitrião dos BRICS+, mas ignorado em negociações-chave com China, Índia e Indonésia, viu sua relevância estratégica diminuir no cenário externo e enquanto isso, tenta administrar uma crise interna de confiança institucional e tensão fiscal.
Mercado em foco – 16/07/2025
Índices & Dívidas
Ativo | Valor Atual | Variação/Destaque |
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Ibovespa | Futuro em ~136.605 pts | −0,40%, repercute investigação dos EUA |
Dólar (USD/BRL) | R$ 5,5568 | +0,12% hoje |
Ouro (spot XAU/USD) | US$ 3.335,90/oz | +0,33%, com dólar e yields em queda |
Commodities & Câmbio
- Ouro segue firme com vantagem técnica por conta da volatilidade global e queda do dólar.
- Próximos indicadores: PPI e CPI nos EUA (09h30); produção industrial e estoques de petróleo (11h30) devem impactar câmbio, juros e commodities.
Ações em destaque (pré-abertura)
- Vale e Petrobras seguem no radar, pressionando o Ibovespa.
- Bancos (como Itaú e Banco do Brasil) acompanham com desempenho misto, sustentando a Bolsa ontem.
Promessas do dia
- Investidores monitoram: definição política sobre IOF no STF; relatórios da LDO e PEC dos precatórios no Congresso
- Cenário externo: evolução da investigação dos EUA via Seção 301; dados de inflação e yields dos EUA
- Expectativa: alta volatilidade no intraday, com oportunidades para players ágeis
Fonte: JHC/B3/Reuters/Blooberg/CNN/Exame