O imposto do silêncio: o brasileiro trabalhará mais de 150 dias para sustentar o Estado

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Com aumento do IOF, carga tributária consome quase cinco meses de trabalho — e o cidadão nem sempre percebe onde está pagando

Em 2026, o brasileiro terá que trabalhar quatro dias a mais para pagar tributos. Serão 153 dias de esforço, o equivalente a cinco meses do ano, apenas para sustentar o Estado, segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Entre os vilões que puxam esse número para cima, está um velho conhecido que age nas sombras: o IOF, Imposto sobre Operações Financeiras.

Pouco debatido no cotidiano e raramente percebido pelo cidadão comum, o IOF é o típico imposto silencioso. Ele aparece disfarçado nas entrelinhas do crédito, dos seguros, do financiamento de um carro, da fatura do cartão de crédito e até de uma simples remessa internacional. Quem compra um celular parcelado, quem paga um curso com boleto bancário ou quem viaja com cartão de crédito internacional está pagando IOF — mesmo sem saber disso.

A proposta de aumento do IOF, em debate no Congresso, não é apenas um detalhe técnico. Ela representa um novo fardo sobre o orçamento das famílias e das empresas, especialmente as mais vulneráveis. O IOF é um dos tributos mais regressivos que temos, ou seja, ele penaliza proporcionalmente mais quem tem menos.

“Trata-se de uma medida que agrava a regressividade do sistema tributário e penaliza especialmente quem mais precisa de crédito”, diz João Eloi Olenike, presidente-executivo do IBPT.

O que diria um especialista em economia pública?

“O IOF funciona como um pedágio disfarçado. É o preço que se paga por acessar crédito ou realizar transações financeiras — mas sem o direito de escolha e sem a devida transparência. É um imposto perverso porque afeta diretamente o custo do dinheiro”, afirma um analista de finanças públicas consultado para este artigo.

Esse “pedágio”, como ele diz, também tem efeito cascata: a indústria paga IOF sobre empréstimos, repassa esse custo aos preços. O comércio paga de novo e repassa ao consumidor. E o consumidor paga uma terceira vez, diretamente, ao financiar, parcelar ou fazer operações internacionais. Tudo isso sem contrapartida clara em serviços, estrutura ou cidadania fiscal.

Mais tributo, menos percepção

A verdade é que o brasileiro paga muito e vê pouco. E quanto mais sutil e difuso o imposto, maior a sensação de impotência. Enquanto isso, falta um debate sério sobre reforma tributária com justiça social: por que taxamos tanto o consumo e o crédito, mas tão pouco o patrimônio e as grandes fortunas?

Não se trata de ser contra o Estado; trata-se de exigir eficiência, justiça e transparência. Trabalhar cinco meses por ano para pagar tributos seria aceitável se tivéssemos um sistema de saúde eficaz, educação pública de excelência, transporte digno e segurança social. Mas o que se vê é a conta subindo sem que o serviço melhore.

Conclusão: o custo invisível da cidadania

O aumento do IOF não é só mais uma linha na planilha econômica, é um retrato do desequilíbrio na relação entre Estado e contribuinte. Em vez de simplificar, redistribuir ou melhorar a eficiência da arrecadação, opta-se por aumentar um imposto que ninguém vê, mas todos pagam.

O resultado? Um brasileiro que acorda cedo, trabalha duro e, em 2026, verá quase metade do seu ano de trabalho ser engolido por um sistema que cobra muito, entrega pouco e ainda o faz em silêncio.

Por Hosa Freitas/Merlí

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Nunca perca nenhuma notícia importante. Assine a nossa newsletter.

Artigos Recentes