De Cleen está definitivamente certo quando enfatiza que a categorização de partidos, movimentos e líderes como populistas, realizada com base na intuição (ou seja, uma definição implícita), complica o desenvolvimento da teoria do populismo por infinitamente aumentando a diversidade dos estudos de caso, entre os quais há muito mais diferenças do que semelhanças (2019, p. 25). E isso sem falar no fato de que a grande maioria dos casos em estudo são retirados do contexto dos regimes políticos democráticos ocidentais.
Mas e se os casos forem implicitamente emprestados da Ásia Central, Sudeste Asiático ou Oriente Médio? E o que acontecerá com a coerência da teoria do populismo se pesquisadores em diferentes partes do mundo levarem em conta apenas casos na proximidade geográfica.
Nesse sentido, a proposta de De Cleen de colocar a teoria em primeiro lugar e estudar o populismo como uma lógica política sob a perspectiva da abordagem de Ernesto Laclau (1977, 2005a, 2005b; 2013 [1985]) parece muito promissora, especialmente porque tem o potencial de aplicação global. Talvez a identificação de novos casos interessantes de populismo esteja entre os resultados mais interessantes de tal abordagem. Tais casos, além dos exemplos bastante estudados de agenda europeia e americana, podem avançar na compreensão do fenômeno do populismo.
Aqui, gostaria de chamar a atenção para o caso do político e blogueiro russo Alexei Navalny, cuja prisão, julgamento e condenação foram amplamente discutidos na imprensa mundial em janeiro e fevereiro de 2021. Parece bastante surpreendente, mas durante mais de uma década de atividade de Navalny, sua gura raramente chamou a atenção no contexto dos estudos do populismo (Glazunova, 2020; Lassila, 2016).
Embora, se seguirmos a abordagem de De Cleen e Laclauian, a lógica política de Navalny é puramente populista. Neste breve artigo, não vou discutir se a plataforma política de Navalny está certa ou errada, mas vou mostrar que seu populismo é bastante típico e muito intimamente relacionado com as especificidades do desenvolvimento da sociedade russa nas últimas décadas.
‘O povo’ e ‘a elite’ como pontos nodais. O discurso político de Navalny é construído na construção do ‘povo’ por meio do antagonismo entre ‘o povo’ e ‘a elite ao longo do eixo vertical para baixo/para cima, pretendendo representar ‘o povo’ como um oprimido da ‘elite’ ilegítima.
